de-lírio é mais que uma série de obras — é uma travessia. Um mergulho no corpo que sente, na mente que pulsa e na alma que, entre caos e silêncio, busca a própria inteireza. Nesta coleção, cada obra é um fragmento simbólico de um percurso íntimo, onde o gesto artístico se torna forma de respiração, cura e escuta.
O título da série nasce da justaposição de dois sentidos: o “delírio” como estado alterado de consciência, onde a racionalidade cede espaço ao fluxo emocional; e o prefixo “de-” como desvio, ruptura, desapego — um movimento de libertação das formas fixas de sentir e existir.
O caminho começa com iinside, obra inaugural, densa e instintiva, onde a ferida e a luz se manifestam entre cores misturadas quase inconscientemente e cristais que insistem em brilhar. A partir daí, a série avança em espirais: Meditation versus Medication tensiona o equilíbrio entre presença e anestesia; Livre propõe uma entrega radical ao amor e à liberdade interna; burnout denuncia o colapso psíquico e celebra a resistência que nasce da memória e da luta.
As obras Berotec e sem ar, feitas em latas de spray, exploram a metáfora da respiração — sua falta, sua busca, seu reencontro —, aproximando o corpo da linguagem da urgência. Já mulungu e passiflora, criadas em pequenas caixas de madeira, evocam a medicina das plantas e das pausas, como respiros suaves no percurso. Em suas superfícies, a natureza se manifesta como guia e testemunha de uma alma em processo de cura.
Por fim, um anjo visto do céu oferece o desfecho elevado: uma visão de luz, compaixão e integração. Um retrato de uma alma que, após o delírio, encontra a serenidade da presença e o abraço silencioso do sagrado.
de-lírio é rito, colapso, ressurreição. Um chamado à escuta do invisível — aquilo que pulsa por trás da pele, por dentro do silêncio e nas entrelinhas da matéria.

 

de-lírio é uma mostra coletiva entre amigos — um encontro de almas que, em meio ao turbilhão da rotina, decidiram parar, respirar e compartilhar experiências.
Em um tempo onde a pressa nos afasta do essencial, este espaço nasce como refúgio, reconexão e escuta.

Na pintura, mergulhei numa investigação íntima e silenciosa. Foi como acender uma lanterna dentro de mim, iluminando sentimentos que por vezes evitei encarar. Sentimentos que, ao longo do tempo, foram anestesiados, medicados ou simplesmente silenciados pela urgência do cotidiano.

As obras que compõem esta série — marcadamente experimental — afastam-se do habitual e são marcadas pelo ritmo veloz das cores e dos gestos impulsivos.
Há camadas. Muitas. Há tentativas, erros, acertos e desvios. Há caminhos ocultos por novas demãos de tinta, por novos diálogos internos que se manifestam sobre a tela.

Esse processo me trouxe um estranhamento estético — uma espécie de deslocamento da identidade visual que até então habitava em mim.
Mas, ao mesmo tempo, abriu frestas. Revelou potências.

Não se trata de buscar um novo estilo ou apropriar-se de outras narrativas, mas de exercitar, através da pintura, o reconhecimento dos espaços onde residem o medo, a inquietude, a ansiedade. E tocá-los com tinta.

Porque dentro da nossa caixa de Pandora, há labirintos. Muitos.
E cada pincelada é um passo nesse percurso de vivência e revelação.

Driin